sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Kinzinho


Outro dia, quando eu fui visitar a moça que mora embaixo da ponte, eu vi a Lili, a cachorrinha dela. A senhora não estava lá, mas a Lili me reconheceu no ato, quando eu me aproximei... Ela veio abanando o rabo, muito feliz em me ver. E eu tinha estado lá apenas uma vez, mas fiz um carinho nela e ela simplesmente se recordou de quem eu era. Fiquei com ela durante um tempo esperando a senhora chegar. Ela não chegou, só um outro senhor. Naquele dia fiquei pensando como era lindo essa relação dos animais com os humanos, a maneira como eles te reconhecem, como te amam de uma maneira tão leal, de como tentam te agradar e como reconhecem quando fazem travessuras...

No último final de semana fui pra São José e fiquei com uma gripezinha chata. Chegou no domingo eu estava como um zumbi pela casa. Resolvi que queria ficar por lá mesmo até terça e matar a aula de segunda. Foram dois dias a mais com o Kinzinho. E foram os dois dias a mais. Nós dois jogados no sofá da sala vendo TV, comendo presunto e queijo na cozinha. Eu reclamando que ele não queria comer melancia. Ele se recostando na minha perna. Eu o chamando pra ficar deitado no chão da sala vendo a novela da sete com meus pais e a minha vó. Nós dois indo pra lá e pra cá. Não existia sintonia mais perfeita, Ele é meu filho e, às vezes, parecia que ele tinha saído de dentro de mim. O seu jeito esquisitinho tão parecido com meu, seus olhos de um castanho tão igual ao meu, seus cabelos brancos, mas lisinhos como os meus, do seu intestino que funcionava bem igual ao da família (ele fazia umas 4 vezes cocô quando ia passear) seu focinho e orelhas geladas que eu sempre gostei, suas pintinhas pelo corpo gordinho, seu tamanho maior que o normal e sua felicidade. Ele sempre sorriu.

Não sei se vou saber honrar o que eu sinto ou que ele significa pra mim em algumas palavras, mas eu fico tentando buscar jeitos de entender e de se fazer entender o que aconteceu.
Lembro uma vez, há muito tempo atrás quando minha mãe falou que não imaginou que eu fosse gostar tanto dele. Lembro tão bem, como se tivesse com ele no meu colo agora, o primeiro dia que ele chegou em casa, tão quentinho que parecia que tinha feito xixi em mim. Lembro da primeira noite que passamos juntos. Denis e eu deitados no tapete de pele de carneiro da minha mãe fingindo que estavamos dormindo pra ele dormir também. Lembro como a gente o aplaudia e ria quando ele pulava o murinho da minha velha casa. De como ele tinha suas manias esquisitas, como deitar parecendo uma rã, adorar queijo nózinho, empurrar com o focinho a porta do meu banheiro, lamber meus dedos do pé quando eu tirava o tênis, brincar de vene-torino-vene-tibum, de passear livre pela pracinha, de implicar com as palmas, de ficar correndo atrás da Tila feito uma sarna, de encostar a cabeça nos meus pés, de como ele acabava com os nossos chinelos, do dia que ele fez cocô em cima da cama da minha mãe (bem no centro da cama), da capacidade de fazer cocô bem em cima dos murinhos, do primeiro banho dele que eu fiquei uns 15 minutos rindo de como ele ficava esquisito molhado, de quando ele mordeu o rato, de quando ele fez xixi nas costas da vizinha, de como ele mexia o rabo quando me via, de como ele latia e rosnava pras pessoas que tentavam bater em todos nós da família, seu medo de altura, como ele arranhava minhas costas quando eu subia as escadas com ele, do dia que ele caiu das escadas... e como ele nunca esqueceu de mim por mais que eu ficasse fora dias e dias...

É engraçado como um cachorro pode fazer mais falta que um ser humano. Eu nunca chorei tanto a perda de alguém como eu estou chorando a do Kinzinho. Ele era meu filhote, totalmente parte de mim, meu bebêzinho, meu adugui dugui mamãe da mamãe mamãe, meu porto seguro, meu amigo, meu companheiro, o presente que eu ganhei e que mais amei. Eu não sou de demonstrar afeto, não sou de demonstrar carinho e nem ser uma pessoa muito doce, mas, se existe alguém em todo mundo que conheceu o meu lado mais doce, mais generoso, mais altruista, mais maternal e mais carinhoso, com certeza foi o Kinzinho. Nunca fiquei um dia todo perto dele sem falar pelo menos uma vez que eu o amava, ou como ele era a coisinha mais importante do mundo, ou como ele era uma bolota gorda fedida que não fedia que eu mais gostava. O bom é saber que ele se foi sabendo um pouco da extensão do amor que eu sinto por ele. E graças a Deus ele não sofreu muito...

Eu não sei se consigo me sentir melhor e não sei como vai ser quando eu for pra São José e não o ver. Não ir até o trampo da minha mãe com ele no banco do carona, não carregar ele morrendo de sono até sua casinha, não ver ele parado na porta do meu quarto assim que ouve o primeiro barulho de que eu acordei. Parece tudo um pouco vazio, mas vamos todos aprender a conviver com isso...

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu sei, eu sei... mas eu tive que comentar.
Sempre tive dificuldades com humanos; ser uma nunca tornou nada mais fácil. A verdade é que eu sempre achei meu cantinho com os animais. Então eu entendo tua dor, não julgo não. Quando eu perder meu pretinho, sei lá, vai ser um pedaço do mundo partido. Tu é foda, mila. Amar os animais assim não é pra qualquer um não.
E relaxa. O Kinzinho tá num lugar bem legal, cheio de queijinho, olhando por você.

Laura Costa disse...

hahahah morri...
voce viu oq voce deixou no meu blog....
"beijos ate terça"...isso seria abstinencia amiga? acabou as aulas...
aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
vc viu eu estava com protetores auriculares...para me proteger do frio ahahahhahahaha
beijosss
saudadessssss

Nalu Rosa disse...

Velho, que demais esse post... eu quase chorei! Isso porque é raríssimo eu chorar com essas coisas.
Sei muito bem como é perder um animalzinho... quando perdi meu Fido (sim, era esse o nome dele), meu lhasa apso gordinho, tortinho e de pelo duro, eu chorei por várias noites, escondida.
Ele viveu pouco tempo, mas foi o bastante pra se tornar a coisa mais importante na vida!
Mas eu superei, e agora penso nele e fico feliz por estar bem. E vc tbm vai superar. =)

Até mais, little animal.